Blackadder (1905)

Importância Científica: ALTA

O clipper Blackadder foi um importante navio construído na Inglaterra em 1870 para o comércio especializado de chá na China. Foi encomendado por John Jock Wills ao estaleiro de Maudslay, Sons & Field, Greenwich, a partir de linhas do casco tiradas do The Tweed,  assim como também foram outros clippers famosos, o Cutty Sark e o Hallow’een. O Blackadder foi construído todo em ferro (forro e cavername), com dois convéses, armado primeiramente em galera e posteriormente em barca, com 970 tons bt, 908 tons capacidade de carga. Possuía 66,0m de comprimento, por 10,7 de boca e 6,2 de pontal.[1] Com um coeficiente de bloco de 0,55 e uma relação comprimento/boca de 1:6, o Blackadder foi classificado por David MacGregor como ‘clipper extremo’[2], ou seja, um navio construído para velocidade em detrimento da capacidade de carga. O Blackadder, entretanto, ficou conhecido à época como  um ‘navio de má sorte’, alcunha que o acompanhou por toda vida. Um dos pontos extensivamente discutidos na literatura especializada sobre este navio diz respeito à sua mastreação deficiente, que teria ocasionado um acidente com a perda dos mastros por erro de projeto, ainda durante sua viagem inaugural à China em 1870.[3] [4] O Blackadder, chegando do porto de Barry no País de Gales em 1905 com carga de carvão mineral, naufragou no porto de Salvador quando realizava manobras no pier da fábrica de tecidos, junto a praia de Boa Viagem, tendo sido jogado sobre os recifes durante uma tempestade. Hoje seu casco encontra-se parcialmente desmantelado, com a proa bem conservada, adernado para boreste a uma profundidade média de 9m. Na popa é possível ver parte da governadura do leme. Ainda estão disponíveis para estudo elementos de sua armação, como fuzis e bigotas, além dos mastros reais do traquete, grande, mezena e parte do gurupés, assim como extensa porção do cavername.

Potencial de Visitação: ALTO

O sítio do navio Blackadder apresenta grande potencial de visitação, seja por mergulhadores com cilindro ou em mergulho livre, devido principalmente à sua baixa profundidade e proximidade da praia. Além disso, o sítio encontra-se bastante preservado em seu contexto arqueológico, permitindo a interpretação e identificação de elementos originais da embarcação, sendo também abrigo para diversos animais marinhos, como peixes, esponjas, corais molhes, moréias, polvos, etc, que contribuem para sua beleza cênica e importância ecológica como recife artificial.

Vulnerabilidade: MÉDIA

Assim como nos demais sítios onde há visitição turística na BTS, no sítio do Blackadder não há um plano de manejo que oriente as operadoras de mergulho e visitantes quanto as práticas de fundeio no sítio. Âncoras são lançadas nas imediações das estruturas do naufrágio, o que pode danificar elementos do sítio, causando assim danos irreparáveis. Além disso, a falta de um mapeamento adequado e de um plano de monitoramento do local, tornam-o ainda mais vulnerável à depredação.

 

Rodrigo Torres 2016.
Localização do sítio arqueológico do Clipper Blackadder em frente a antiga fábrica de tecidos, Praia da Boa Viagem, Salvador (Rodrigo Torres 2016 – Projeto Observabaía).
Clipper Blackadder com armação de galera.
Foto do Clipper Blackadder com armação de galera (autor e ano desconhecidos).

[1] Lloyd’s Register of British and Foreign Ships. Wyman and Sons: London, 1871-72. BLA.

[2] MacGREGOR, D. Clipper Ships. Argus Books: Herts, 1979. p. 141.

[3] LUBBOCK, B. The China Clippers. James Brown & Son Publishers: Glasgow, 1914. p. 309-324.

[4] GUSMÃO, D. M. Sítios Arqueológicos da Baía de Todos os Santos, Salvador, BA: Estudo de Caso do Clipper Blackadder. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. Universidade Federal de Sergipe, 2015.